SERTANEJA DE FÉ
A foice cortava o mato, Rasgando sem cessar, Vap, vup, vap vup, Vap, vup, vap vup. Uma camisa branca e rota, O suor derramado no rosto, O menino brincando, Lá no meio da roça. A foice cortava o mato, Vap, vup, vap vup, Vap, vup, vap vup. O sol sem dó lança fogo, Enquanto a mãe trabalha, No meio do matagal, A foice grita, geme, range, Vap, vup, vap, vup, Vap, vup, vap vup. O menino debaixo do paiol, Coberta de palha de babaçu, Mete a mão na farinha. E diz: - Mãe, tô com fome! - Mãe, vou comê! No meio do mato, A foice corta, corta o mato, Vap, vup, vap vup, Vap, vup, vap vup, A mãe responde: -Come menino esfomeado! -Parece que nasceu na seca do sete! -Igualo teu tio varado! O menino abre a cabaça, Derrama água no copo, Que serviu um dia de água mineral, E que ele nunca bebeu. O menino brinca sozinho, A mosca revoa, Borboletas e mosquitos, Sobrevoam o habitat, Lagartas residem nas folhas, E formigas sobem e descem, Conversando umas com as outras, Dizendo que tem um menino, Naquelas proximidades. A foice não pára de cortar, Nas mãos calejadas da sertaneja, Vap, vup, vap , vup, Vap, vup, vap vup. O sol paira no centro da cabeça, A mulherzinha não descansa. - Adonde tu tá fiin? - tô aqui mamãe. A cascavel passa lentamente, Atrás de uma presa, Mira no menino brincando, E nem se importa com ele. O Pitangus sulphuratus gorjeia, Nas últimas palhas da palmeira, Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi, E logo a tarde chega, Lá se vai a grande família! A cabaça vai ao sacolejo, O sol já vai se escondendo, A foice é jogada no ombro, E logo a tarde chega. D.R.A ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 27/05/2006
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