VIDA SERTANEJA NO CAPOEIRÃO
O dia amanhece no meio do tropical semi-árido, Invernada na caatinga afasta a seca lá pro sul, Os riachos com as fontes do prazer preenchem, Um lago passageiro sem agonia nas espinhadas, Do mandacaru sua majestade no imenso sertão, Reverdecendo o manto sagrado de todo o capoeirão. E no alto da aroeira soa estridente o gemido da cigarra, É logo numa bela manhã de sol ou logo no entardecer, Zoeira, zoeira que se expande por longas distâncias, Afastando o nosso bem-te-vi que voa sem horizontes. A fêmea empolgada com o canto faz o acasalamento, Com a melodia gritante não há quem aguente. No tempo frio aparece a mutuca toda insistente, Amola o cão, o gado e pica dolorosamente o homem, Que espanta com as mãos e surgem mais à frente. É a mosca do diabo que suga o sangue pra viver, Do solo criador e inventor da natureza abastece, O circuito de vida do norte - ocidental da pobreza, O dia amanhece no meio do tropical semi-árido, E a vida recomeça com as aves no ápice das copas, E o grilo com o seu estridor alastra ódio ao cantar, Por onde passa o simples varão facheiro e vaqueiro. Da grande vegetação rasteira que vai ao desfiladeiro, Ornamentando com flores o velho chão que já foi seco. Lá... Lá se vão o cavalo manso e o seu maior cavaleiro, Distorcendo a boiada com alegria e o chapéu na mão. E a vida recomeça com as aves no ápice das copas, No brilhantismo da natureza em festa com arestas, E no alto da aroeira soa estridente o gemido da cigarra, Esbarra o bicho, e o homem solitário do capoeirão não ver. É o sertanejo que rezou e Deus ordenou: chuva. Brotando na terra, as belas jardineiras e abelhas, Revoando na mansidão nobre sem qualquer guerra, Canta no pé de jatobá o vim-vim das asas amarelas. E a Nega passa debaixo cantando que Deus é bom. Com a ródia na cabeça leva o cofo com buriti, Tranquila o coração bate feliz e ninguém ver, É o sertão uma ciência invejável e dói pra chuchu, Na época da seca o caboclo pisoteia o chão com dor, É a fome certeira que vem raivosa e faz o macho sofrer, Sem alimento, voa o sibiti pra longe pra não morrer. ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 18/03/2010
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