CAXIRIMBU – ADEUS SEM PARTIDA
Ó meu Caxirimbu! Tu ficas na beira do Rio Itapecuru, Na minha Caxias que travou sem alegria, A guerra silenciosa com desmedida rebeldia, Entre tantos pernambucanos versus camponeses, Braços estendidos no meio da mata, Cabeça estrepada na ponta de um pau, Demarcava o grau de crueldades nas veredas, Eram sombrias as grilagens com sangue derramado, Outrora queimado como a Joana D'Arc, Espalhado no território num grande legado. Adeus meu Caxirimbu! Adeus pátria desarmada! Adeus meu pedaço de solo onde nascem os legumes! Adeus meu único e belo Rio Itapecuru! Adeus meu Caxirimbu! Vou embora que nem um capuxu. Ó meu Caxirimbu! Tu ficas na beira do Rio Itapecuru, Eu sou mesmo um caboclo do meio do capoeirão, Tenho medo da morte matada pra chuchu, Da vida comprada pelo tiro de fuzil traiçoeiro, Na velha estrada piçarrada do urubu, Eita peste da grama, Compra um pedaço aqui, Mais tarde avança noutro ali, Invade a terra com o gado, Põe a gente no meio da cilada, Afirma ser o único dono por aqui. Fazenda Caxirimbu! Ó meu Caxirimbu! Um lago de muitas tristezas entre riquezas, Chapadas, é o meu tabuleiro na região dos cocais, Caneleiro gigante caindo por cima da maçaranduba, E a palmeira derrubada pelos correntões do inferno, Tratores em dupla arrasavam num estrondo feito o diabo, Ai minha gente! Ô agonia da peste que não passa! O duro golpe do progresso do governo, E de muitas autoridades que nada fazem, Expulsando o povo trabalhador das terras, Provendo as fazendas em nossas propriedades, No desenvolvimento abrupto do gado. Vou para Caxias morar, Tenho pressa em fugir, Do tiro do rico fazendeiro, Um tal de grileiro abacaxi, Tem dentro da alma abaçaí, Por isso deixo minha terrinha, Do meu único lugar, Caxirimbu, Que fica do lado do Itapecuru. Ó Caxirimbu! Tu ficas na beira do Rio Itapecuru, Menino! Não entre nas terras que serão da SUDENE, Com empreiteiros e financiamentos da Alemanha. Ô de casa! Deixa essa alma penada passar, Chorando com as mãos vazias sem roça de toco, Aqui não dá mais pra eu ficar, Não tenho mais casa de morada e nem coivara pra cuidar, O meu plantio vai se perder no meio do capoeirão ensanguentado, Juro comadre Maria, que um dia eu volto pra morar, Não imaginei que a década de oitenta fosse tão violenta, Nada disso será eterno, parece mais que um inferno, Na derrubada de toda a vegetação, Será meu Deus o que vai ser de mim? Sem uma linha de arroz pra botar, Nem mesmo uma mata pra brocar, Sem emprego na cidade, vou pedir esmola, É talvez melhor do que roubar, Ficar sentado no banco das praças, Olhando os bem-te-vis nos fios brincando de bacondê dê. Ó Caxirimbu! Tu ficas na beira do Rio Itapecuru, Não levo o leite de babaçu e nem o meu azeite, Fui expulso como um cachorro sem dono, Dona Mazé, Nem um bocado de arroz com casca tive direito de pegar, Não deixaram a mulher trazer o milho e nem rezar, “Eita homi da disgrama da pedra lascada” Ô perdição amaldiçoada por mil anos! Se não fosse o IBAMA a mata estaria toda no chão, E o gado nas terras vazias eram de montão, Sabe. A terra vai secar e o chão vai rachar, Sem matas, tudo vira uma praga, São as matas que atraem as chuvas, E trazem abundância no inverno pro ano inteiro, Com a minha tarefa de roça perdida, Nada mais vale do que ir embora, Igual o camaleão, o macaco, tatu, cotia e o peba, Que partiram com medo do correntão, Adeus meu Caxirimbu! Eu vou... Vou embora sem nenhum tutu, Que Deus tenha dó de mim. ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 20/02/2012
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