Na calçada das linhas
A voz não é minha, e a tua também não A vida vem de Deus como uma bela lição Somente tu jamais me queres bem na sala Somente tu apedrejas a minha expressão Sem ganhar aplausos na sala de aula. Que mal fi-los aos olhos negros da noite suja? Adorando-me chamar de gago por todos os lados Farpeando as locuções dos meus caminhos Outrora abrindo o caldeirão podre dos dentes Nos tons mais antipáticos das gerações vis. Defeitos serão corrigidos na voz e na alma E um dia, ouvirás no quintal a minha voz Passando na Rua da Tangerina, inda calado Pisando os espinhos que me silenciaram E na aura, escriturando nas folhas soltas esse vento Se a gagueira veio num bote de linho A minha alma não é gaga e nem ofegante Tu dizes para a Dani que eu sou poetrasto Dos mais reles do bairro Pé da Ladeira. Ainda bem que não fui criado pela vossa mãe. Dizes que eu sou um poeta sem valor E meus pobres versos, apenas historiados É verdade. Jamais foram escritos para os teus ouvidos E tão pouco com a associação da tua amizade Que procura saber tudo sobre as minhas ideias. Escrevo com o lápis que Deus me dera E nunca pedi uma letra da tua boca emprestada Se a turma de sala de aula me aclamam Que culpa eu tenho de ser um poeta? Vais escrever a tua vida torta, esquecendo a minha. Já perguntaste a Teócrito ou Platão sobre mim? Sabes! Eu fiquei triste quando falava com Tímon Ele me dissera que tu tens dois famosos ladrões na cara Sim. É realidade. Tu não sabes onde ficas? Que tu vejas no espelho da vossa bela casa Assim, saberás que tens mais sabedoria que Homero. Que tu escrevas algum dia as linhas das ilusões Aquelas que tu deixaste cair na rua do desespero Quanto a minha gagueira? Não te preocupes! Os meus querubins saberão a hora marcada Talvez! Quiça! Fará do teu Rio Itapecuru O mais lindo ouro com as galhas de urucu Sem nenhum tabu e sem qualquer tutu Agora, eu vejo a tua cara como a de belzebu. Escrita em 1976. para um colega de sala de aula ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 22/01/2014
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