Maria Antônia e o Padre Cícero Romão Batista
Era o mês de março de 1.855, e minha bisavó conhecida como Maria Antônia estava pegando água com suas vizinhas no poço. Ali, era o bairro Trizidela e a residência dos pais de minha bisavó, ficava nas encostas do alto do morro Sanharó, local anteriormente conhecido por abrigar várias tribos indígenas entre a beira do Rio Itapecuru.
É um dos máximos centros econômicos do estado graças a seu grande desempenho industrial, e um importante centro político, cultural e populacional do estado do Maranhão.
Maria Antônia, ao passar por um quiosque de barbearia, carregando água. Foi observada por um homem que se encontrava cortando o cabelo. Indagando para o barbeiro, este respondeu que se tratava da filha de Zé Mourão, apontando com o dedo, indicou a casa no morro.
Após o término do serviço, o homem rumou ao endereço da residência dos pais da moça. Ao chegar a casa. Ele bateu palmas e perguntou.
-É aqui a casa do Zé Mourão?
-É sim. O que o senhor deseja?
-Posso entrar para nós conversar?
-Mais é lógico. Entre e sente neste tamborete de couro. Me conte o que achou de interessante neste fim de mundo?
-Eu gostei de sua filha e quero me casar com ela.
Zé Mourão complementa;
-Certo. Pois, a minha filha Maria Antônia é sua mulher. E qual é a sua graça?
-Eu me chamo Ferreira da cidade de Uruburetama do Estado do Ceará. Compro e vendo ouro. Eu viajo muito, e descanso em casa uns dez dias.
Diante de tais aberrações presentes, Maria Antônia nunca viu o homem, de cabelos ruivos, cútis branca e olhos azuis, assim, como nunca teve qualquer contato.
Naquele mesmo dia, Ferreira alugou uma casa próxima a residência dos pais de Maria Antônia e passou a morar com a mesma. Após 01 (um) ano de convivência, Ferreira tratou de fazer uma viagem para o Estado da Paraíba com retorno em 40 (quarenta) dias.
Era o mês de setembro, e muitas mulheres daquele bairro falavam na Romaria para a cidade de Juazeiro do Norte no Estado do Ceará. Maria Antônia também se manifestou com as outras mulheres e fizeram um grupo de romeiras de 30 (trinta) mulheres.
Naquele dia, as mulheres do bairro Trizidela, arrumaram suas trouxas com roupas, bolos e perfumes, e atravessaram o rio de canoa. Vários animais atravessaram na canoa o rio Itapecuru sem causar nenhum transtorno com as bagagens.
Minha bisavó, era detentora de dois animais (jumentos), os quais ela apetecia levar em viajem, um com roupas e o outro com mantimentos. No dia marcado, elas fizeram a travessia do rio Itapecuru e rumaram com destino a Juazeiro do Norte, no Estado do Ceará.
Com estradas vicinais, chegaram ao Estado do Piauí, próximo a uma caatinga, cochilaram debaixo de várias árvores em grupos de 10 (dez) mulheres. Maria Antônia rezava incansavelmente o terço com as passagens de Jesus Cristo com dor na rua estreita de Jerusalém. Outras mulheres cantavam músicas de romarias para São Francisco das Chagas.
-Ei pessoal! Vocês vão para onde? Aqui é a terra do nosso padre Cícero Romão Batista, Padim Ciço, adiante é a Igreja de São Francisco das Chagas, nosso protetor, onde louvaremos.
Disse a outra romeira:
-Comadre Digé, vamos! Desça a carga dos jumentos. Vamos escolher um lugar para ficarmos bem arejado e ventilado. Assim, podemos dormir um pouco.
No dia seguinte, ao abrir a Igreja de São Francisco das Chagas, todas as romeiras rumaram para a missa celebrada pelo Padre Cícero. Não demorou muito, padre Cícero entrou na Igreja. E ao olhar as romeiras vinda da cidade de Caxias, do Estado do Maranhão, Padre Cícero disse aconselhando o seguinte:
-A oração é o melhor caminho, é a estrada mais sagrada de Deus. Venha cá senhora de blusa rosa.
Ao se aproximar do Padre Cícero, Maria Antônia, disse:
-Meu nome é Maria Antônia Ferreira. Benção meu Padre Cícero e me proteja junto com São Francisco das Chagas. Por que Deus é a nossa salvação.
-Deus te abençoe e Deus te louva em todas as tuas andanças. São Francisco manterá acessa as chamas da salvação. Minha filha, quanto mais rezares, ainda é pouco para o senhor. Por isso, eu te louvo e consagro nas águas de São Francisco. Amém!
As outras mulheres, ouvindo o padre falar com Maria Antônia, disse:
-Como é que pode? Maria Antônia veio de Caxias do Maranhão até a cidade de Juazeiro rezando sem parar. E o Padre Cícero ainda diz que é pouco.
As demais romeiras, acolhendo as lições e conselhos do Padre Cícero, nada falaram. E desta forma, após o encerramento do festejo de São Francisco das Chagas, ela foram para a Princesa do Sertão Maranhense.
Ao chegar em Caxias, Estado do Maranhão, Maria Antônia ao adentrar em seu domicílio recebeu um recado do esposo Ferreira, apesar dos avisos das vizinhas.
-Gonçala, não entre em sua casa. Seu marido disse que vai matar você, ainda hoje.
Antônia Gonçala respondeu:
-Eu entro. A casa é minha única morada. É o lugar onde eu vivo.
-Maria Antônia, acorda vagabunda! Acorda para morrer. Acorda, porque eu só gosto de atirar em vivente. Acorda inútil! Antônia Gonçala despertou e disse, suplicando:
-Pelo amor de Deus, tenha compaixão de Jesus Cristo. Tenha clemencia nesta hora! Não me mate! Padre Cícero é o seu revólver e São Francisco é o meu protetor!.
Com muita raiva, o primeiro tiro disparado não acertou. Agindo com covardia, deu o segundo, terceiro, quarto e quinto. E nenhum tiro acertou Maria Antônia à queima roupa.
Sem saber o que fazer, ele disse exaltado;
-Tu desviou todos os tiros do meu revólver, mas não escapará do meu punhal sangrento. Vou cortar a tua garganta com ela enfiada no meio da goela.
Ao se aproximar com o punhal em suas mãos. Ela disse:
-Me louva Padre Cícero! São Francisco! Dai-me sua cobertura! Amém!
E o punhal quase cravando a garganta de Maria Antônia se transformou em uma rosa. E Ferreira disse nervoso:
-Vou deixar de te matar desgraça, Porque tuas orações são fortes. Eu vou embora para nunca mais pisar aqui. Vou desenterrar as latas de dinheiro e ouro. E vou embora para bem longe.
Ferreira foi ao quintal, arrecadou todo ouro e dinheiro enterrado, e arrumou as roupas e comidas na cela do cavalo e partiu, sem nada a dizer. Sabe-se que Ferreira era um vendedor de ouro de Uruburetama no Estado do Ceará.
Disse a minha bisavó Maria Antônia para a minha vó Gonçala com mais de 100 (cem) anos. Que certa vez, o cavalo do senhor Ferreira não quis atravessar um pedaço de estrada vicinal, por causa de uma sombra no chão. Naquele dia, estava ventando muito, e as folhas das bananeiras faziam sombras na estrada de terra. Com o vento à noite assoprando, as folhas de bananeiras, retorciam e criando imagens misteriosas no solo. Fizera com que o cavalo de Ferreira se recusasse a passar naquele local. O cavalo rinchando com medo das imagens no chão fez Ferreira sacar do punhal e matou o animal. Indo para casa os dois à pé pela estrada com um peso enorme das mochilas.
ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 14/10/2022
Alterado em 16/10/2022 Copyright © 2022. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |