![]() Mancarú – O Lobisomem da Beira do Rio Itapecuru
Um certo dia, Jacinto no horário de almoço com a sua família, indaga ao seu pai sobre as questões do enchimento de barro e areia na caçamba com os trabalhadores braçais no respectivo tempo de menos de 01 (uma) hora. Momento em que Jacinto explica em detalhes ao seu pai, conhecido como Francisco da Silva, os motivos:
- Papai, eu não quero me meter sobre o caso. Mas acho que o tempo de enchimento de barro na caçamba, está demorando muito com os quatro trabalhadores que o senhor possui. Naquele dia em que estive no barreiro, eu tive a oportunidade de observar que eles levam mais de duas horas. Eles brincam e contam piadas realizando o serviço.
Observando a conversa, Francisco da Silva diz:
-Menino, você é uma criança e ver demais. Tem razão, eles devem fazer isso em menos de duas horas.
Jacinto expõe ao pai o seguinte:
-Pai! O tempo de carregamento com a escavação e colocação do barro com as pás, merece um carregamento de uma hora. Apesar que o local é fácil de escavar barro e este não gruda na caçamba basculante. Ao meio dia, quando os trabalhadores chegarem na porta de nossa casa, eu vou conversar com eles.
Em determinada quinta-feira, Jacinto ficou na porta da casa aguardando os trabalhadores. Momento em que chegaram três trabalhadores e sentaram na calçada ao lado da caçamba. O quarto trabalhador conhecido pelo nome de Mancarú, achou por bem deitar-se na sombra dos pneus traseiros da caçamba basculante. Com muitas dúvidas, Jacinto chamou todos os trabalhadores para que falassem sobre si, e as condições necessárias para o enchimento da caçamba basculante. Todos falaram de si, porém Mancarú permaneceu calado, discreto e não disse nada. Irriquieto, Jacinto se apresenta e fala com Mancarú o seguinte:
-Meus amigos, meu pai é dono da caçamba, sou filho único e meu nome é Jacinto. Eu tenho apenas quinze anos de idade e estou fazendo o segundo grau na Escola Diocesano. Nesse momento, quero dar novas formas de encher a caçamba basculante, e assim, meu pai pode ganhar mais tempo e dinheiro no carregamento. Porque não é fácil ele carregar apenas duas carradas de barro por dia. É um absurdo. Hei senhor! Porque as pessoas lhe chamam de Mancarú?
Ele respondeu:
-Não sei. Porque você não pergunta para eles. Você não acha que está fazendo muitas perguntas à toa?
Cabisbaixo, Jacinto responde:
-Não. Eu perguntei o que achei certo.
Olhando por baixo, Mancarú, articula:
-Olha rapaz, eu vim aqui foi para trabalhar, não foi para responder perguntas suas, não.
Insatisfeito, Jacinto perquire:
-Me fale. Por que seus cabelos são grandes, inclusive nas pernas e braços?
Mancarú, já demonstrando ódio, responde:
- Você está perguntando demais. Daqui a pouco quer saber se tenho cabelo no pau e no cu.
Sem demora, Jacinto tenta acalmar Mancarú, dizendo o seguinte:
-Mancarú, não seja áspero ou grosseiro. Eu perguntei por não conhecer você. Se seus cabelos são grandes deve ser simpatias ou promessas. Aqui, eu respeito a todos. Perdoe-me se falhei em alguma coisa.
Em pleno verão com 53 graus centígrados, Mancarú usava uma calça com a camisa compridas, pouco ligando para o sol ardente. Em plena tarde, Mancarú dormia na sombra com a cabeça no meio dos dois pneus traseiros da caçamba basculante. Com miúdos e passos leves, Jacinto se dirigiu cuidadosamente até o pneu traseiro do caminhão. E naquele instante, Jacinto notou que as unhas do pé do trabalhador Mancarú jamais viram uma tesoura. Com unhas grandes, grossas e pontiagudas eram capazes de perfurar uma pessoa.
À noite daquela quinta-feira, Jacinto foi à casa do trabalhador do seu pai, conhecido pelo nome de Kleber e fez diversas perguntas ao trabalhador:
-Kleber, me diz uma coisa. Porque Mancarú utiliza camisa e calça compridas durante o pleno calor? Jamais usa um calção ou camisa manga curta.
Com as mãos sobre a mesa de jantar, Kleber respondeu a indagação:
-Eu acho que é por causa dos cabelos grandes no corpo dele. O Mancarú não deixa ninguém ver os pelos enormes do seu corpo. Nós sabemos por que ele trabalha conosco na caçamba. E às vezes, seu pai nos leva para banhar ao passar no riacho do três. Assim, podemos ver o seu corpo.
Curioso, indaga Jacinto:
Ele é casado o Mancarú ou amigado?
-Não. Ele é solteiro. Vive com a mãe e a irmã na casinha de palha, com portas de talo de babaçu, nem janelas na casa não tem, é bem afastado do nosso centro rural, na beira do rio.
Ainda bisbilhotando, a vida de Mancarú, Jacinto pergunta:
-O que você ouve falar dele na comunidade?
Kleber com receio e medo, diz o seguinte:
-Eu vou lhe falar algo sigiloso, mas por favor não me coloque no meio dessa história: É o seguinte: Dizem que o Mancarú bate e golpeia com as mãos a mãe e irmã, e ainda dorme com as duas durante a noite, fazendo com elas sexo. Depois, ele espanca sem misericórdia as duas indefesas. Logo, elas não têm amizade com ninguém em nossa comunidade. Jacinto, a porta de talo é sempre fechada e não tem nenhum vizinho. De quinta para sexta-feira na virada da lua cheia, Mancarú vem trabalhar com ferimentos na perna e costas. Eu não quero falar asneira, mas o povo acusa o Mancarú de bater na mãe e irmã, e fazer sexo com as duas, além de virar lobisomen à meia noite.
Indiscreto, Jacinto indaga:
-Kleber, me fale a verdade. Não crie, não invente anedotas sobre o homem. Isto é um caso sério. Você já viu o Mancarú à meia noite no dia de lua cheia? Conte-me tudo por favor.
Intranquilo, Kleber olha para o teto, e diz:
-Jacinto, é a coisa mais feia desse mundo. Eu havia chegado da cidade, pois eu fui tomar uma moça branca no bar do Zequinha. Eu adentrei em casa e fechei a porta. De repente, ouvi uns cachorros latindo sem cessar. E fui curiar pela fresta da janela e vi aquela criatura com corpo de lobo, todo peludo, garras afiadíssimas contra os cachorros. Com grandes sobrancelhas, orelhas caindo nos ombros e unhas longas. Eu juro que fiquei com muito medo daquela fera. Era o Mancarú com metade do corpo de lobo e a outra parte humana.
Jacinto, intrometido no assunto, indaga ao trabalhador Kleber:
-Quer dizer que Mancarú se transformava em um homem-lobo? Um monstro gigante e feroz?
Kleber responde, informando o seguinte:
-Jacinto, Deus livre a sua pessoa de cruzar com aquela besta fera. Ele dava cada murro nos cachorros, que estes caíam a longas distâncias. Com os olhos brilhantes, cheio de força e poder, ele rosnava. Eu conheci ele por causa da camisa do ex-deputado Heráclito Fortes do Piauí totalmente rasgada em sua transformação. Mancarú, era um lobisomem selvagem, muito agressivo e com o nariz de um focinho de lobo. Descendo rumo da cidade em duas patas e uma matilha de cães atrás dele. A fera tem instinto maldoso e muito rápido, atacando as pessoas para se alimentar de sangue nas quinta e sextas-feiras nas luas cheias. Dizem que a morte do lobisomem somente acontece se você tiver balas de prata.
Sem muitas palavras, Jacinto diz para Kleber:
Confesso que eu fiquei com medo dessa fera lá em minha casa. Eu vou pedir para o papai mandar ele embora do serviço. Um indivíduo humano se torna um ser com características animalescas e totalmente brutal. É muito sério isso.
Jacinto permanece sem palavras e conclui:
-É por isso que as unhas do Mancarú nunca foram cortadas e nem seu cabelo. Eu vi lá em casa as unhas dele com pelos grandes espalhados no corpo. Kleber, eu vou conversar com o senhor João para vir neste local na sexta-feira de lua cheia e acompanhar você. Eu quero que descubram se é o Mancarú, o verdadeiro Lobisomem da beira do Rio Itapecuru.
Kleber impulsionado diz o seguinte:
-Vamos descobrir sim. Na sexta-feira antes da meia noite eu estarei aqui, esperando o senhor João.
-Combinado.
Na mencionada sexta-feira, os dois fazem uma armadilha para pegar o lobisomem que passava pela rua deserta da zona rural da Beira do Rio Itapecuru. E somente desta forma foram capazes de pegar o homem tido como lobisomem. Após uma grande corrida com tiros, Mancarú transformado em Lobisomem adentra nas águas amarelas do Rio Itapecuru e desaparece nas águas frias.
Erasmo Shallkytton
Enviado por Erasmo Shallkytton em 30/08/2025
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