GUANARÉS – UMA NAÇÃO QUE NÃO CONSTA NA HISTÓRIA
Nas elevações das margens, Descia o bravio rio Itapecuru, Rolando entre as cachoeiras, Tudo de norte a sul em corredeiras. Desciam nos pontos em curvas, Pedras, vales e remansinhos, Águas em violentas correntezas, Junto às margens daquele rio. Meados dos séculos XVII, Das lacunas do meu rio Itapecuru, Rajadas de ventos em círculos, Abocanhavam em diversos lugares. Do lado onde o sol dorme à noite, Erguiam-se centenas de aldeias, Palheiros e pequenas choupanas, Nos morros de terras vermelhas. Nação dos povos aborígines, Exércitos de índios Guanarés, Espalhados nas beiradas do rio, Homens valentes e guerreiros. Rasgando com as mãos o palhoçal, Saltando das palmeiras do babaçu, Ali estavam prontos e armados, Na defesa do maior território nu. Pintados na cor vermelha com urucu, Protegiam-se até da radiação ultravioleta, Além de ser o condimento alimentar, Produziam lavouras e artefatos de palha. Os Guanarés mantinham sempre, O silêncio do reino da serenidade, Eram mais de oito mil índios, Fortalecendo as belas montanhas. Os Guanarés conspurcavam seus corpos, Com barro vermelho e outro de massapé, Canelas pretas pisavam a grande floresta, Das boas terras dos olhares cobiçados. Assim, das elevações das margens, Descia o bravio rio Itapecuru, O mais belicoso do Maranhão, Assombrando por toda a região. O temeroso e extenso Rio Itapecuru, Era a mais formidável lição dos indígenas, Nos tempos e eras que se passaram, Distanciando os costumes daquela época. Os Guanarés enfeitavam as faces, Faziam adornos com penas de papagaio, Ali, estavam todos prontos e armados, No amparo do maior território nu. Os brancos trafegavam rio acima, Outros desciam do Piauí, Ceará e Bahia, Encontrando-se nas matas dos Guanarés, Da atual cidade de Gonçalves Dias, Caxias. Da mãe Lisboa, embarcava nas galés, Notáveis homens carpinteiros e artesãos, Grandes e finos marceneiros portugueses, Laboravam nas margens do rio Parnaíba. Do rio Itapecuru, Alpercatas e Mearim, Além do rio Tocantins, o perigoso, Fazendo embarcações a serviços do império, Das grandes expedições do Nordeste. Eram gigantes náuticos e do mar, Exímios artesãos da madeira de lei, Navegantes do alto Parnaíba, Distribuídos em várias missões. Jamais, os Guanarés tiveram sorte, Avalanche de impetuosos era a covardia, Nascia ali a Vila das Aldeias Altas, Terrinha dos desordeiros e politiqueiros. Do maior comercio de escravos nus, Central única dos manifestos portugueses, Comerciantes e homens assassinos natos, Dos partidos políticos que se guerreiam. Ali, tramam tudo que é de bom, Preconceituosa ainda é a Princesinha, Onde muitos deixam o suor e toda a transpiração, Na boa esperança e remota de boas-fés. Terrinha da mentira verdadeira, Correndo becos, atravessando ruas, Tudo é real se não fosse uma mentira, Mantida durante séculos com balbúrdia. Agitada com tantos atropelos é Caxias, Por um tostão de rés, ficam ricos e calados. Escreveram o que não viram, está na história, E mentiram com ar de verdadeira história, Ao Império Português seu julgado de fé. Gabriel Malagrida fiel a Deus sempre teve razão, Em defender os pobres índios Guanarés, E as mulheres perdidas no sexo por estupros, E por isso foi severamente castigado, Pelas notícias vindas da capitania do Maranhão. Assim como Padre Antônio Vieira, Que soube informar nos seus Sermões, Que toda “a mentira do Maranhão anda como verdade”, Tanto de dia que arde por onde se ouve. Maquinam o céu com o inferno, Calúnia? Foi sempre a mais gostosa brincadeira, Gera uma guerra e intriga por todas as ruas, Entre sorrisos e laços de amizades, No outro dia jazia no meio da mata o corpo estendido. Mistério dos bons amigos do governo, Entre os povos a lei não existia, Fazendo apenas temor aos enfraquecidos, Com pesadíssimos males na bexiga. Fazendo das orações o apadrinhamento, Dos que se piruetavam aos seus pés, Assombrando com os negros nas esquinas, E os espíritos dos índios Guanarés. Era lá, ou hoje, o palco das acomodações, Igreja, políticos e os maçons, Homens mandados do império, São, ainda hoje os homens do governo, Até comungam os instintos maléficos da traição. E fazem o melhor teatro ao vivo do Brasil, É normal ser artista em praça pública, Da grande cidade do império português, Amaldiçoada por mais de mil anos, Encrenqueira e por demais, assassina, É a terra dos aventureiros que se dão bem. Assim, partiam os homens aguerridos, Os melhores defensores das altas tribos, Nos barcos e canoas dos portugueses, Pequenos machos valentes amordaçados. Os prantos rolavam nas lajes da beira-rio, Mulheres grávidas, crianças e velhos, Murmuravam eternas noites e dias, E seus varões jamais retornavam. Mulheres repuxavam os seus cabelos longos, Corriam para os penhascos das beiradas do rio, Lançavam sem misericórdia suas infelizes vidas, Consumidas pelas demoníacas águas vermelhas. Mulheres e crianças gritavam, gritavam, gritavam, Pelos nomes de seus companheiros nas tardes noites, Que desciam nas balsas amarrados como um cão, Deploráveis e imortais momentos daquela nação. Entre a cidade de Codó e Caxias, os Guanarés sabiam, Que os seus espíritos e deuses iriam lhes salvar, Grandes redemoinhos formavam no meio do rio, Era o Deus dos Guanarés que vinha em tempestades, Arrebatante em socorro dos enfraquecidos filhos. Os portugueses amedrontados nos barcos e canoas, Açoitavam e rebatiam com os seus chicotes, Nas pontas, estrelas pontiagudas com esferas, Arpões de madeira com ponte de ferro afiada, Martirizava o ventre daqueles índios inocentes. Mostrando-lhes como arde o primeiro exemplo, Que o homem branco é muito mais feroz, Ferindo, espirrava o suco vermelho nas águas, Lançando à sorte no meio do rio o corpo ferido, Em homenagem as feras famintas, devoravam. Os demais artilheiros apenas olhavam, A malvadeza que o branco era capaz, Nem mesmo nas guerras tribais, Manejadas pelos Tupinambás e Gamelas, Eram tão perversas tais brutalidades, Que os índios combatentes não viram jamais. As embarcações se agonizavam nas torrentes, Desequilibrando o eixo da navegação infeliz, Os olhares dos homens Guanarés, silenciavam, Transmitindo os sinais da ampla coragem. Mãos e pés atados nas grossas correntes, Cordas transpassando nas bocas e dentes, Sem gemido e olhos cerrados, As cabeças indigentes retorciam para baixo. Era o Deus Salvador que havia chegado, Lançavam-se todos nas águas vermelhas, Tragados pelas bocas insanas das águas, Ali se perdiam inúmeras vidas com alma. Desaparecendo os espíritos intranquilos, Reinava silenciosamente nas águas, A dor dos caminhos sem salvação, Mas o perdão daqueles pobres homens, Deus recolhia com suas abençoadas mãos. Descendo sem qualquer violência, Os portugueses com medo alertavam, E assim, sem os índios, porém de olhos atentos, Rumavam pela passagem do Urubu em Codó. Com a força do Guanarés ninguém se atrevia, Eram combativos esses homens de Caxias, Maior nação indígena das terras dos cocais, Nem mesmo Maranhão não o conheceu, Talvez fizesse de conta a sua insignificância. Apenas o bom Padre Gabriel Malagrida, Seu único defensor e patriarca dos Guanarés, Quase teve sua alma pendurada, Entre os lajeiros dos morros vermelhos. As noites na trizidela eram frias, Tão frias que o vento por lá não passava, Dava a meia volta entre os morros, E nem mesmo a lua saia em suas companhias. No alto da montanha do “Morro Sanharó” Ali o índio persistia com as pupilas erguidas, Prontidão de uma viagem sem retorno, Dos irmãos escravizados não haveria voltas. As tribos se reuniam e lançavam gritos, Na escuridão maciça que se estendiam Apertavam suas gargantas e morriam, Num ato de desespero e muita aflição. Aproveitavam os Tupinambás e Gamelas, Com a ausência dos únicos guerreiros, Arrastavam as mulheres e matavam os velhos, Arrancado as mandiocas e levando seus utensílios. E os índios inimigos gritavam vitórias, Os Canelas e Gamelas partiam, Correndo entre as palmeiras, E dos morros os Guanarés avistavam. Lágrimas e muitas correrias dos índios, Centenas de meninos choravam, A dor que se espalhava na escuridão, Órfãs daquela nação desprovida, Outros adentravam nas matas dos cocais, E por lá ficavam meses e meses às escondidas. Por trás das moitas esparsas de bananeiras, Ali se escondiam dezenas de Guanarés, Protegendo a alma e a grande vida, Encurralados nas noites de tormentos. Os anos se passaram, franceses e holandeses, Já conheciam a bela Caxias, antes dos portugueses, Porém, mantinham distância daqueles índios, Que protegiam suas tendas, tribos e nações. Eles viviam da pesca Outrora de frutos, Verdadeiros donos dos mais belos cocais, Foram esmagados por todos os colonizadores, Que nem se quer fizeram qualquer registro, Ou suas aventuradas vitórias sobre o homem branco. Novas tribos de Guanarés se formavam, Eram as tribos dos meninos órfãos, Meninos caçavam juritis e rolinhas, Outrora vinha do rio com muitos surubins, De mais de três metros de comprimento. Era a fartura de um mundo fantástico, Subiam o Morro do Sanharó, No portal de todas as armaduras, Na proteção da cidade nação indígena. Velejavam os ventos em todas as aldeias, Uma princesa rodeada de morros e palmeiras, Comunicava-se entre os morros das Tabocas, Hoje Morro do Alecrim – Memorial da Balaiada. Cujo local foi remodelado - Quartel-General, Do homem de ferro e maldoso, O então Luís Alves de Lima e Silva, O Duque de Caxias, o Barão de Caxias, O grande Pacificador da Guerra da Balaiada. Que fez o maior rio de sangue de toda a América, Com artimanhas militares, matava sem aviso, Severas emboscadas e truques eram invencíveis, Mataram mais de vinte mil homens. Porém, apontam que só foram dez mil, Entre escravos, pretos, cafuzos e índios. Não retrata que morreram pobres caxienses, Que não tinham condições de fugir, Da macerada e covarde brutalidade, Sem haver tréguas àqueles infortunados. Mostrando o seu alto poder ao império, Medroso nunca travou com os balaios, Jamais enfrentou o homem mais valente, De toda a linda província do Maranhão. O Negro Cosme, apelidado pelo Ministro de Guerra, Como mais bandido de todas as quilombadas, Era tido como facínora eterno e feiticeiro do Maranhão, O Duque apenas ordenava matanças, Até mesmo do quartel, somente observava. Entre crianças, mulheres e velhos, Mortes sumárias que desciam, O vermelho que formava grandes poças, Nas areias soltas de cada rua. No combate com os Balaios, Dos pobres homens injustiçados Da hierarquia e província portuguesa, Venceu com ousadia matando milhares de caxienses, Que nada tinham com a famosa guerra. Continua a história dos Guanarés: Índios e tantos mulatos libertos, Nas palhoças nas beiras do rio, Conhecedores profundos das águas, Ganhadores de presentes e dinheiros. Enormes Fazendas acresciam, nas matas, Homens do império desciam e subiam Demarcando e conhecendo a sua gente, Prestando contas ao El-Rei nosso senhor, Freguesias nas bordas e portos públicos, Apontavam como o da Vila de Caxias, Bestas e cavalos à disposição dos desbravadores, Feitorias agasalhavam o percurso do Itapecuru. Comitivas em grandes jangadas de buriti, Balsas de talos de coco babaçu, Açoitavam as margens daquele insolente rio, Eram uns dez tropeiros insanos. Percorrendo as longas bordas do Itapecuru, Conheciam a abundância de peixes, Avistavam as terras arenosas e abastada, E suas águas saudáveis ao convívio. Nascendo o rio Itapecuru num buritizal, Entre as instâncias da serra montanhosa, Num emaranhado de voltas e dobras, Curtas, longas, inclináveis e indóceis. Da vila de Caxias à nascente eram vintes dias, Com navegação turbulenta e arriscada, Nas alturas da passagem do leito semeado, Em vastas pedras e montanhas verdes. Os Guanarés mantinham esse vasto território, Até no ponto monstruoso do rio Parnaíba (PI), Olhando e sentindo a temperatura das águas, Outrora pretas lodosas e tão encarnadas. Cachoeiras e mais cachoeira, Só os índios sabiam os mistérios, Das correntezas bravias e indomáveis, De norte a sul em curvas tortas e alongadas. Entre tantos desamores ao índio Guanarés, Estes foram tirados à força dos pedaços de terras, Importunados de suas nações e sua gente, Capturados nas grandes matas do sertão. Tantos pelas tribos oponentes, Como pelas perseguições variadas, Alastrada nas terras descobertas, Punhos assolados e tantos sacrifícios. Fugindo das pequenas aldeias, Não encontraram a liberdade, E tão poucos restassem a fé, No uso de seus trabalhos escravos. Não havia ouro ou qualquer mineral, Tão cobiçado por aqueles homens, Apenas viram no patrimônio indígena, A riqueza e a produção em algodoeiros. Milícias e tropas repetiam incansavelmente, As mais severas e perseguições, Inimigos Barbados matavam os Guanarés, Nas dobras das grandes curvas do rio, Pelos cantos das margens do Codozinho. Era ali, o fim da linha dos índios caxienses, Que por várias vezes fugindo dos homens, Eram presas fáceis das nações Timbiras, Guardiões do território de Codó. Um percurso que era sem voltas, Atravessando os territórios alheios, Deixando a mãe pátria caxiense, Nas paragens sem qualquer descanso. Segmentos de uma geração exterminada, Cortando a flor no matagal perdível, Passavam frustrados e consternados, Desperdiçando os sonhos e vidas. Aterrando naqueles aluviões desgraçados, Os passos amargos dos meninos índios, Saltando longas ribanceiras dos cocais, Caindo sem dor os passos dos gemidos. Era uma revolta constante nas matas, Nações tribais em defesa do território, Homens avançavam adentro suas tropas, Outros remediavam na luta com flechas. Embarcações naufragavam nas doidas correntezas, Centenas de dardos nas pontas venenosas, Saiam das moitas e galhos desmedidos, Atingiam os tropeiros e comitivas ali expostas. Uns cantavam nos ares o grito da vitória, Outros se enfileiravam nos arbustos gigantes, Ossadas espalhadas por todos os lugares, Demarcavam como os últimos Guanarés. Até mesmo o rio Itapecuru também lutava, Em prol dos pequenos Guanarés valentes, Abarcando grandes canoas nos redemoinhos, Engolindo numa só rodada furiosa os fuzileiros. Era o Rio Itapecuru um dos grandes combatentes, Um dos melhores lutadores contra os portugueses, E outros filhos da mãe pátria do Brasil, Que importunavam a sobrevivência dos indígenas. Embarcações fechadas com o couro de boi, Impediam os turbilhões de arcos e flechas, Que rebatiam na proteção seca e dura, E os homens brancos sorriam, sorriam. Os Guanarés apressados desciam os morros, Atravessavam o matagal verde e trancado, Adiante, impulsionavam manobras radiantes, Apoiavam suas armas nos troncos de paus. Árvores gigantescas que se debruçavam no rio, Atrapalhando a navegação dos matadores da corte, Não havia saída entre tantos obstáculos, As balsas encurraladas nos galhos das árvores, Acima uma legião de índios alvoroços, Investiam sobre a embarcação pesada, Homens aprisionados pulavam nas correntezas, Outros ceifados nos peitos e corações morriam. Oportunidades diversas eram felizes os Guanarés, Aguardando os homens errantes nas cachoeiras, Formadas nas curvas, laterais e meio do rio, Imensas pedras cobertas por um mundo de água. Dificultando qualquer navegação naquele trecho, A ligeireza dos silvícolas era imediata, Preparando-se a matança nos apertados caminhos de água, Que os expedicionários não sabiam e por lá morriam. Abundantes atropelos na descida das cachoeiras, Trajeto embaraçado aos homens náuticos, Com inadvertência na direção das águas, Sofriam no meio das raivosas e loucas águas. As nações dos Guanarés festejavam, Gritos e mais gritos nas ribeiras, Podia-se ouvir por todas as nações, Salvaguardando em poucos dias. Uma labuta solitária de poucos aborígines, Sem nação ou território não mais voltavam, Deixando encharcar de gado as suas terras, Ricos fazendeiros de todo o Brasil se alojavam. Terra livre no descompasso de uma ferida, Que alguns velhos caxienses ainda comentam, Que por cada cabeça de Guanarés, Recebiam prêmios e provisões alimentares. Outros afirmam que recebiam em terras, As promessas do Império com recursos, E assim era a mutilação daqueles povos, Desestruturados e sem qualquer valia. Os índios desciam morro abaixo, Avistavam-se panoramas verdes, Subindo rumo ao infinito céu, Dos altos dos penhascos era o eldorado. Que por várias enchentes, O rio era muito caudaloso, E por isso lá construíam suas cabanas, Entre as tempestades de ventos. Trovões e relâmpagos de inverno, Os índios observavam o tempo, A luta do rio e seus ribeirinhos, Riacho dos Cocos e Gameleira. Eram as únicas travessias, Pois lá existiam outras tribos, Espigões matutos e traiçoeiros, Homens das matas era mateiro. Que partiam para o riacho São José, Subindo rumo ao córrego Pampulha, E depois no riacho da Criminosa, Distanciando dos inimigos Guanarés. Eram muitas tribos e nações, Concentradas ao longo do rio, Os portugueses temiam a ferocidade dos índios, Por toda a terra boa do jardim de Alá. E por todos os lados viram muitos índios, E por léguas avistavam outras tribos, Espalhados por todos os lados, Do meu grande rio Itapecuru. Analisaram e projetaram as terras, E viram progressos na criação de gado, Nas terras dos índios, estava à solução, Do mais encantado pedaço de terra, a salvação. A primeira expedição como adiante narrei, Não teve sucesso com os índios Guanarés, Que expulsaram os grandes portugueses, Encurralando na outra margem do rio. Alguns, ainda de pouca importância, Até foram aprisionados e reféns, Morreram amordaçados em cordas de tucum, Porém, não serviram aos homens brancos, Novamente, partiram os portugueses, Rumando às terras do Pará, Levando alguns homens nus, Que jamais chegaram aos destinos. Eram os Guanarés, filhos do trovão, Os índios novos e fortes da imensa nação, Estes eram bem aceitos e queridos, Podiam gerar dinheiro ou uma boa troca. O silencio perpetuavam nas embarcações, Olhavam com amargura a distância, Que nas esquinas o rio fazia, Descendo lentamente por cada estação. Eram dezenas e dezenas de homens, Que olhavam para trás naquelas léguas, Chicotadas rangia em suas peles, Nem mesmo o barro vermelho, Não os protegia da ferocidade dos algozes. As pupilas e os cabelos lisos lançados, Refrescavam a dor e o sofrimento, Marcando no emudecer no desprazer, Em cada balançar das águas. Mais tarde vieram os portugueses, Afoitos numa grande expedição, Na parte alta entre os vales e ribeirinhos, Aventavam tropeiros executores, Comerciantes de animais e escravos, Organizaram mais tarde, Uma grande comitiva sem perdão, Com a proteção da Companhia de Jesus, E logo fundaram a Vila de Caxias. Ao longo dos caminhos, Abriam vilas, hoje cidades, Eram os tropeiros os homens das notícias, Enviadas as Capitanias e distritos. Temiam os Timbiras e Gamelas de Codó, Que chamavam de mateiros, os barbados, Por estabeleceram moradas insignificantes, No meio da mata dos cocais e muitos perigosos. Chamavam de barbados os caboclos, Por atacar os expedicionários d’El-Rei nosso senhor, Guanarés eram homens livres, Mantinham alianças fortes com o tempo, Entendiam os portugueses pela redução, Desses vassalos e incultos da terra, E logo fundaram a primeira Igreja da Matriz, Em frente ao maior mercado negro. Era o local mais destro para a humilhação, Dos escravos índios que nada falavam, Sentiam no baixo olhar as damas portuguesas, Que saiam da Igreja com o ar de impurezas, Até mesmo olhar um índio era contaminação. Ainda hoje, marca-se o local desumano, Que nem mesmo os caxienses o conhecem, Passam por cima e dizem; o “Alto do Cruzeiro” Símbolo da Igreja Católica Apostólica Romana, Com uma grande Cruz, é lá o Cruzeiro, Insano depósito de índios vivos, Amarrados, amordaçados e feridos, Na luz do sol que bramava sem fé. Após muitos anos foram trocados, Por negros africanos outros injustiçados, Memórias de um grande El-Rei, Que nada sabia sobre atos obstinados. É triste a história dos índios Guanarés, Sem causa matavam a sangue frio, Nas margens de todo o Rio Itapecuru. Eram os homens mais garridos da Europa, Senhores da mais pura civilização, Moralistas e sabedores da cultura, Grandes fazendeiros e catequistas. Juntavam-se com os homens vestidos de preto, Nos quartos secretos e escuros do julgado, E ali partilhavam o símbolo de Salomão. O império dos temerosos índios, Corriam notícias por toda a Europa, Novas comitivas e várias investidas, Acertaram o lado contrário do rio. Observando os indígenas, atrelaram no centro, Com várias choupanas entre eles os Jesuítas, Com suas batinas pretas, abençoando as investidas, Com fins de catequizar e humanizar aqueles índios. Criadores de gados, comerciantes e muitos escravos, Lançavam à sorte nas melhores terras de pastagens, Que ficava do outro lado do rio, na atual Trezidela, Centenas de tribos na parte alta da beira do rio. Os Jesuítas atravessavam em pequenas balsas, Subiam as ribanceiras de lajes do grande rio, Encontrando-se com alguns índios, Dando-lhes presentes e falando de Deus. Educando com a liberdade os bons costumes, Os Guanarés com olhares desconfiados, Nus - ficavam distantes observando entre as palhoças, Os Jesuítas retornavam daquelas missões, Pelas margens do rio os portugueses indagavam, A quantidade de silvícolas da cara vermelha. Insatisfeito os portugueses com tais respostas, Preparava na madrugada uma conspiração, Invadindo o território indígena com fogo nas palhas, Em grande escala de tropeiros e fazendeiros. Era um inferno nas madrugadas, Índios morriam sufocados pela fumaça, Outros esquartejados com espadas e lanças, Crianças lançadas pelo chão, estertoravam. Uma cabala planejada e acertada naquela nação, Eram mais de mil homens armados até o pescoço, Verdadeiros comboios de homens assassinos, Cerceando sem qualquer aviso e surpresa ardente. Subiram à margem mais estreita do rio Itapecuru, Armados com facas, facões, arpões e lingotes, Na afoita ambição das boas terras daquela nação. A ambição naufragava com sangue e ódio, Nas melhores terras, campos e povoação, Era o doce mel para criação de gado, Plantação de algodão e da cana-de-açúcar. Cordas e mais cordas nas mãos, Aprisionavam índio como um cão, Uma matança com mais de dois mil índios, Horrenda e cruel nas beiras do Itapecuru. Uma verdadeira carnificina ao céu aberto, Não se poupavam as crianças, jovens e mulheres, E muito menos homens velhas e grávidas, Mortos. Eram lançados nas águas do Itapecuru, Além de ameaçaram os Jesuítas sobre o evento pernicioso. Uma multidão de índios presos com as mãos amarradas, Aprisionados nas suas boas terras, chegava a criação de gado, Homens tristes tremiam de medo dos algozes, Calados morriam aos poucos na dor silenciosa, Entregando os pedaços de terras ao progresso, Lavado com tanto sangue inocente e sem perdão. ano - 2003 ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 03/04/2008
Alterado em 03/10/2011 Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |