O FILHO DE MARINA
Era uma noite plácida, daquele dia 18 de dezembro do ano de mil novecentos e setenta e sete, ouvia-se na distância as badaladas do relógio da igreja da Catedral no apogeu central da cidade, a mais bela do Estado do Maranhão, sintonia espalhada no som melódico daquele compasso triste, ecoando nos ares da Princesa do Sertão. O clarão augusto da donzela prateada fisgava por trás das palmeiras e outras árvores nos arredores o sombreamento brilhante nos céus estrelados. Imponente, centrada ao meio da cidade, reluzia com prantos a coloração de mais uma noite de lua. Uma senhora atravessava o tempo nas passadas do derradeiro algarismo romano do relógio, penteado no alto daquela igreja, o símbolo da décima segunda hora noturna, as últimas pancadas no relógio, soavam, soavam naquele espaço límpido ao foco lunar, repartia na alma a desesperança fugaz. Ali, sentava a jovem Marina no banco vazio da praça com seus cabelos negros e lisos nos ombros, nos olhos castanhos, máculas de um desespero se desprendiam em sua volta no sossego em que dormia a cidade. A cútis fina e bem trabalhada pelas mãos divina, relampejava a formosura de uma mulher com vinte e um anos, desenhada na face os centímetros de cada sacrifício ostentado nos degraus da existência profunda. Podia se observar que a sua altura era mediana traçada com um peso da massa corporal amena, e num vestido azul com bolinhas brancas adquirido nas bancas do mercado central da cidade, era a única vestimenta que possuía há mais de três anos quando passeava com o filho durante os festejos de São Benedito no mês de agosto. Era uma mulher bonita com a face mergulhada no entrave de cicatrizes e aflições do cotidiano nefasto, desacolhendo no pensamento os atos indigestos da vida aparente. Ao seu lado, e pondo no colo, uma criança de seis anos de idade, na esperança remota de apagar as chamas radicalizada pelos infortúnios do dia a dia. Emudecendo por trás de um simples aconchego maternal, ali, estava o pequenino Antonio, descalço e soluçando nos vasos do entristecido olhar por uma sórdida camiseta velha do Armazém Paraíba, e um calção costurado na altura da cintura por um elástico, podia se apreciar o corpo franzino e pouco desenvolvido de um suco desnaturado do seio familiar, na embocadura desvinculada. Marina, não teve sorte na vida, por sua livre escolha e simpatia das oferendas que se apresentava ao meio, abandonou o curso ginasial, casando-se com o colega de sala de aula Ricardo, apesar de que os seus familiares importunaram pela aliança do casal, motivados pela pouca idade da mesma. Porém, as certezas e verossimilhanças de suas atitudes joviais aglutinadas ao sentimento do árduo amor lançadas entre ambos, foram capazes de alojar no ímpeto de suas raízes, a busca de um futuro próximo, o rumo de uma vida melhor ou até mesmo o deleite enlaçado e ávido da união perfeita e não imaginável do que estava a esperar tão próximo. Passados alguns anos de inteiriça e prazerosa solução do amor, a junção concebível daqueles seis anos que se arrastavam nos conflitos, foi capaz de aumentar e traçar horizontes contínuos e inconcebíveis na vivência do casal. A descrição perspicaz do jovem Ricardo, era dominante e arraigada a uma jornada de conquistas e malandragens com mulheres, desfazendo nas noitadas o riso arrastado entre festas e brincadeiras. Nesse ínterim, Marina sempre mantinha aceso o sabor do homem bonito e qualificável aos anseios, que outrora Ricardo se prontificava em casa, achando que o encanto de um corpo masculino era a paixão. A missão empreendida sob o escudo amoroso do passado, fora folheando em dias, meses e anos, a real personalidade desenvolvida aos olhos de uma jovem que se abria. A turbulência era constante na vida do casal, brigas e discussões partiam com lesões, enquanto o menor, tudo assistia em conhecer a voracidade do pai, maltratando sem escrúpulo e com atos maléficos e às vezes pancadas mortais desferidas em qualquer parte frágil daquela mulher. Outras vezes, alcoolizado permitia após noitadas de farras o regresso aos braços da amada, que acomodava no silencia as traquinagens, abraçando e apertando em cada momento alucinante, a intrepidez de homem insano e voraz, recebendo como bonificação o perdão suave e cheio de gratidão dos lábios da jovem Marina. Um novo dia, um recomeço, mais e mais, uma nuvem no céu a atravessar lentamente pelo horizonte, marcando vinte e quatro horas de severos caprichos e renegações depositados no coração do grande amor de sua vida. Assim, era a existência de Marina, compreensível de largo sorriso com os vizinhos, porém, com prantos derramados todos os dias, na perspectiva de obter uma sinalização de vida melhor em cada canto da casa. Naquela noite do dia dezoito de dezembro, aproximadamente às vinte e duas horas, Ricardo chegava mais uma vez embriagado, após longa farra com mulheres e amigos, desempregado, ainda desfrutava de larga influência pela cidade onde não faltavam amizades e bebedeiras. E por inoportuno, adentra em sua residência atordoando a todos, cortando os punhos das redes do filho e mulher. Assustados, saem pela porta dos fundos do quintal, indo de encontro com a rua. Inesperadamente, cambaleando e com uma faca afiada nas mãos, Ricardo prometera derramar sangue dos dois, proclamando palavras desordenadas e repugnantes contra as duas almas puras que apressavam os passos em direção ao centro da cidade. Foi nesta última instância que Marina sentiu o temor rasgar dentro do peito a ligação amorosa que tanto providenciou possuir, lamentando em gotículas no semblante, o desespero de uma mãe, sem dúvida, a lagrimar pelas ruas da cidade de Caxias. Uma noite escabrosa com pretensa tragédia que não se cumpriu, desfigurando a evidência de um romance burlesco, frutificado por meras conjecturas de um lenço sentimental fantasioso, além do mais, seguro por seis anos através de uma beleza de um homem que transpirava os instintos da perversão. Caminhando pelas ruas escuras, apenas com o clarão do luar, segurando a mão direita do guri, encontram a paz nas badaladas do relógio da igreja da Catedral de frente à praça, e no lado oposto, triunfa o Palácio Episcopal de Dom Luís Marelim, bem como ao lado da Igreja sentido ao bairro Cangalheiro, é nobilíssimo a presença do ex prefeito da cidade de Caxias, o benemérito Ezíquio Barros, com sua magnitude de médico sempre despontou pelos atos humanitários sua gesticulação ao calor humano. Sem contar neste nobríssimo ar da cidade de Caxias, sobressai entre as estrelas do céu caxiense, a mais bela deusa da nobreza da Princesa do Sertão, onde a ex dama da cidade, senhora Iracy Barros que detém no fundo da alma os caminhos da presteza e elegância ora traduzido ao amor ao próximo com as pétalas mais famosa do coração. Adiante, se observa o castelo do homem mais poderoso da cidade, o augusto, galante e pomposo Alderico Silva, cuja construção arquitetônica erguida na posição dominante da cidade, é o mais harmonioso traço europeu, donde se avista de qualquer parte da cidade a torre, na qual moradores antigos comentavam que naquelas alturas, havia uma sala secreta onde era cultivada adoração a lúcifer. À frente da igreja da Catedral, luze com esperanças entre o verde do Morro das Tabocas ao lado do castelo do "seu Dá", a tradicionalista família Maciel, contracenando na mesma dimensão, encontra-se plantada no mesmo nível geográfico, a residência da emérita professora Jesus Lobão que batizou o poeta nas primeiras letras alfabéticas no ano de 1967, no colégio Nossa Senhora dos Remédios, atualmente Duque de Caxias ao lado do ginásio de Esportes. Mais tarde.... Angustiada e confusa, Marina abraçava o filho em lágrimas, balbuciando palavras de conforto e coragem ao menino, instantes, em que o brilho da lua, tornava intenso e robusto até parecia ser um dia de sol, enxugando os prantos derramados da menina mulher que outrora o tempo as levou sem destino, numa paragem iluminada pelos raios de Deus, um vento macio, meigo e acasalado com maestria, ventilava naquele único local, assobiando e dançando entre as palhas das palmeiras do castelo ao fundo. Sozinha, irresoluta, não havia como medir o tempo e nem mesmo as conchas de todos os sacrifícios lançados na perdição sem juízo. Entremeio, não havia um jugo, e sim, o alicerce à sua frente, a imagem da redenção de Nossa Senhora dos Remédios em duas torres da igreja com os sinos intactos. Já passava da meia-noite, Marina acorda o filho. -Antônio! Antônio! Acorde meu filho! Vamos? Ainda assustado, ele indaga. - Pra onde mamãe? Pra onde nós vamos? Tô com sede e fome! Suspirando, ainda com lágrimas, Marina esclarece. -Não sei meu filho. Vamos andar por aí. Deus há de nos guardar e mostrar um novo caminho. Vou pegar água na torneira da praça pra você beber. Com o vestido azul de bolinhas branca, Marina se levanta do banco e refaz os longos cabelos e pega água numa torneira para o menino. Novamente, a indagação do meninote, tentando abrandar a mãe. -Mãe! Eu não quero ver você chorando. Eu não vou deixar o pai lhe matar. Não... Não vou deixar. A senhora já sofreu demais. Não chore mãe! Por que está ainda a chorar? Marina, olhando de frente ao filho, exclama: -Eu choro é somente por você meu filho. Por você eu daria a minha vida e mais nada posso fazer, mesmo sem forças, rogo a Nossa Senhora dos Remédios para lhe dá conforto e sabedoria, guiando os seus passos por onde você andar. Para mim, não importa o que virá, tenha fé em Deus, e reze a oração que sempre lhe ensinei à noite. Seja obediente e observador e jamais deseje para si o que é dos outros. Não sejas arrogante quando não quiserem ti ouvir com a verdade, pois, o silêncio é a alma invisível dos vencedores. Com tantas lágrimas derramadas pela face, Antônio interroga: -Mãe! Por que a senhora está me dizendo isso agora? A senhora por acaso vai me deixar aqui neste lugar? Eu quero ficar do seu lado pra sempre. Não me deixe sozinho. De todas as maneiras, Marina prossegue em acalmar o filho. -Vamos acolá! Logo lhe mostrarei uma coisa boa. Não chore, por favor! Eu já chorei demais por toda a vida. Os dois saem da praça rumando em direção a Rua Benedito Leite, momento em que Marina pára em frente a uma casa, e diz ao filho. -Antônio! Eu quero que você fique na porta desta casa até o amanhecer, e... A frase não se completa com a explosão que fazem nos olhos lagoas imensas sobre o meigo e tão suave rosto com a interpelação do menor. - Mãe! A senhora vai me deixar aqui sozinho? Por que a senhora faz isso comigo? Não me deixe aqui mamãe. Eu não sei viver. Por favor! Não me abandone aqui! As lágrimas descem vorazmente pela face do menino, o desespero e a agonia abalam naquela despedida crucial, repuxando a camiseta encardida e repassando no rosto. Marina adverte: - Meu filho! Não chore! Você não vai sofrer o que tenho tanto sofrido nesta vida. Você sabe que eu não trabalho e minha família já não existe mais por aqui. Eu só tenho você e por você eu faço qualquer coisa até mesmo o impossível que parte dentro de mim. Eu não posso ver o teu rosto sofrendo em cada amanhecer, e tudo isso me entristece e me acaba por dentro. Nem mesmo o meu amor despedaçado poderá remover as tuas tristezas colocando alegrias no teu olhar me pedindo comida. Eu não tenho a quem pedir, eu não tenho ninguém por mim. Antônio ainda tenta em dizer, porém, as lágrimas atuam com mais rapidez nas frases. -Mãe! Eu tenho medo da rua, da noite com escuridão. Não me deixe mãe! Eu... -Antônio! Não temos mais casa, não temos mais um pai, somos os únicos perdidos nesta cidade. Por favor! Entenda-me. Saiba que é mais fácil uma criança ganhar um prato de comida do que um adulto. Não se desespere. Nesta casa haverá uma mão de Deus para nos ajudar, e de onde eu estiver não esquecerei jamais de você, esteja onde você estiver. Lembre-se sempre das frases que lhe ensinei. Saiba que Nossa Senhora dos Remédios jamais lhe abandonará. Acredite na santa. Nunca esqueça disso. Esteja aonde estiver, não esqueça de Nossa Senhora dos Remédios. Não chore! Logo, eu venho te pegar aqui. Espere-me que vou trazer um sanduíche pra você. O guri entristecido indaga: -A senhora vai buscar comida pra mim? Conformando o meninote, Marina abraça e beija pela última vez, estreitando o filho ao peito num único adeus. -Sim. Vou buscar comida agora, é só um minuto e não saia daí. Naquele local em frente a uma residência, ali ficou o menino com os olhos abertos em direção ao final da rua, aguardando a mãe que jamais surgia com a merenda, enquanto o dia ficava claro, encolhido no batente da porta, os olhos avermelhados perfaziam a agonia e um mundo de desespero. No amanhecer do dia dezenove de dezembro daquele ano, o proprietário da residência abre a porta, e observa o menino acocorado com a cabeça entre as pernas como quem se protegesse do frio e do medo. Momento, em que o proprietário chamado por Alberto indaga: - Ô menino! O que você faz estas horas na minha porta? Assustado, Antônio não respondeu, permanecendo com os olhos arregalados e esfregando as pupilas com os dedos, e Alberto pergunta novamente? -Garoto! O que você faz na minha porta? Onde você mora? Sem respostas, Antônio apenas suplica com uma voz macia: -Moço! Me dê um pão pra eu comer? Tô com fome! Adiantou Alberto, pressentindo que o guri estava com muita fome e chorando. -Espere um instante que vou pegar algo pra você. Sem demora, Alberto abriu as folhas da porta com uma bandeja, ofertando um grande café da manhã ao pequenito que rapidamente matou a fome e agradeceu. -Moço! Deus há de lhe dá mais em todas as manhãs. Eu tenho certeza disso. Olha! Quando lá em casa não tinha café, sempre aparecia uma pessoa pra me dá um pão, e mamãe dizia que se deve dizer sempre isto, agradecendo com o coração. Tais palavras do garoto emocionaram o coração de Alberto que passou a indagar a vida do mesmo, instantes em que o mesmo olhava em direção da rua, a procura da mãe. -Eu quero a minha mãe! Alberto inquiriu novamente: -Quem é a sua mãe e seu pai? Onde você mora? Os soluços eram constantes e não havia respostas. Sem oferecer resistência, Alberto o convida a entrar em sua casa para solucionar o caso. Porém, este, continua a lastimar a falta e o desejo da mãe, dizendo: -Eu quero a minha mãe! Ela disse que voltava logo e não voltou. Eu não sei aonde vou morar. Meu pai é mau, ele quis matar eu e minha mãe ontem a noite. Ele bebe muita cachaça, e ainda bate na minha mãe, aí, ela fica chorando muito. Um dia ele amarrou meu pezinho numa corrente e me bateu com cipó de tamarindo seco, depois, ele passou pimenta malagueta na minha bunda. Arde demais, passei mais de dois dias com ela ardendo. Eu chorava muito e minha mãe não podia fazer nada. Ele é muito mau, eu tenho medo dele me ver aqui. O senhor vai me entregar pra ele? Com as declarações expostas pelo guri, Alberto compreendeu nos mínimos detalhes o que realmente se passava com aquela criança desamparada. Inesperadamente, indagou: -Você quer morar na minha casa? Eu não tenho filhos e gostaria muito que você aceitasse. Com os olhos centrados na direção da porta da rua, desconfiado, Antônio disse: -Não. Eu não posso morar com o senhor. A minha mãe está chegando, ela só foi comprar um lanche pra mim. Eu não posso deixar ela só. Eu sou o único filho, e vou trabalhar pra comprar uma casa pra ela morar bem bonita igual a sua. E ela me disse que vou ser doutor e ter um carrão lindo quando eu crescer. Um carrão igual ao do seu Dá. (Alderico Silva). Durante a conversa, Alberto dera gargalhada, trazendo o menor e apresentando sua mulher que diante deste, falou com um sorriso irônico: -Que filantropia amor! Deveis fazer uma casa maior para abrigar os pobres coitados da cidade, somente assim, poderá ser reconhecido no UNICEF o seu trabalho. Insatisfeito, Alberto reclama: -Já vai começar? Eu acho que você está alterando a ordem dos fatores. Não é assim, que se abre uma porta, porém, não se fecha uma janela quando não se tem. Aborrecida com a presença do garoto, ela diz: -Sim, eu sei que altruísmo pertence à corte celestial, muito menos eu tenho janelas para abrir ou fechar a estranhos. Afinal de contas, é um belo garoto que precisa de muita ajuda. Não é mesmo amor. Alberto apenas observa o gracejo e leva Antônio para tomar um banho, providenciando roupas e demais utensílios. E os dias passam, e Antônio procura por sua mãe que não veio trazer o lance naquela madrugada de dezenove de dezembro. Na noite, o casal discute o destino do menino, e Alberto esclarece, chamando sua atenção: -Meu amor! Não importa o preço dessa humildade e tão pouco o esforço dá um prato de comida pra quem não tem. Sem demora, retruca a consorte: Por favor! Acalma-se e vamos dormir. Disse o marido. Ainda contesta a esposa: -Amor! Veja como este garoto tirou o nosso sossego. E agora não tenho e não sinto mais vontade de fazer amor nesta noite com você. Esclarece o esposo com um sorriso; -Ainda bem. Você nunca teve necessidades, e a sua família é tradicional na cidade. Pois, o meu desejo é sempre realizado sem trazer subterfúgios sobre o sexo. Afinal de contas, o meu amor por você não se concentra nos problemas do cotidiano. A nossa cama sempre foi o local para deleitarmos e apreciarmos a nossa vivência amorosa. Aqui não é palco ou teatro. E boa noite amor! Os dias passam, e o menino vai conquistando uma nova vida na residência de Alberto, entretanto, não esquece a face de sua mãe em nenhum momento. Alberto matricula o pequeno no colégio São José no centro comercial da cidade, uma das melhores escolas da Princesa do Sertão Maranhense, ofertando uma educação e ensinamentos da vida diária. Numa certa manhã, após Alberto sair para jornada de trabalho onde mantém uma indústria de refinação de óleos vegetais, a mulher aproveita para colocar na mala do menino uma pequena importância de dinheiro. E no horário do almoço, aguarda o esposo ansiosamente. -Amor! Eu já estava com saudade de você? Como foi de trabalho? Alberto responde com um beijo em sua boca ardentemente dizendo: -Muito bom. Já vendi todos os óleos vegetais para São Paulo. E o Antônio como está? De repente, ela o convida ao quarto, alegando o seguinte. -Amor! Você nem acredita! Você pegou o dinheiro que me destes ontem? -Não. Eu não tenho essa mania. Os dias passam, e o menino vai conquistando uma nova vida na residência de Alberto, entretanto, não esquece a face de sua mãe em nenhum momento. Após Alberto sair para jornada de trabalho onde mantém uma indústria de refinação de óleos vegetais, a mulher aproveita para colocar na mala do menino uma pequena importância de dinheiro. E no horário do almoço, aguarda o esposo ansiosamente. -Amor! Eu já estava com saudade de você? Como foi de trabalho? Alberto responde com um beijo em sua boca ardentemente dizendo: -Muito bom. Já vendi todos os óleos vegetais para São Paulo. E o Antônio como está? De repente, ela o convida ao quarto, alegando o seguinte: -Amor! Você nem acredita! Você pegou o dinheiro que me destes ontem? Surpreso Alberto diz: -Não. Por que eu iria pegar. Kátia, falando macio com espanto diz: -Amor! Se não foi você que pegou o dinheiro da minha bolsa. Então foi o Antônio. Imediatamente, contesta Alberto: -Calma! Meu amor! Você não pode de uma única vez acusar uma criança sem provas. Você já procurou em outros lugares? Irrequieta diz Kátia: -Lógico amor que foi ele. Se não foi você que pegou, não há outra pessoa nesta casa além do Antônio. Vamos procurar em seu quarto? Diz Alberto já chateado: -Kátia! Já está passando dos limites. Não podemos fazer isso por questão apenas de desconfiança. É uma criança. Insistiu a esposa: -Vamos Alberto! Somente assim podemos saber a pura verdade. Por alguns instantes, eles começam a revirar o quarto enquanto Kátia remexe a cama e pede para que o mesmo olhe a mala. Sem demora, ao vasculhar o fundo da mala, Alberto encontra o dinheiro enrolado numa folha de caderno. E Kátia se surpreende, dizendo; -Eu não disse Alberto que este garoto é ladrão. Como é que pode uma coisa dessas, ter a audácia de ir ao meu quarto, abrir a minha bolsa e pegar o meu dinheiro. -Calma! Meu amor! Vamos conversar com ele. Uma criança é uma criança, temos que dialogar de uma forma sem acusar. Insatisfeita, Kátia diz: -É um ladrãozinho que você está criando. Eu lhe falei. Veja o que você está fazendo com uma criança que não conhecemos. E você afirmando sempre que só quer ajudar por ser pobre. Olha aí o resultado. Um ladrãozinho fino. Mais tarde, ele lhe assaltará com uma gang. Nervoso com as insinuações, Alberto solta o verbo: -Chega! Já está demais! Pare! Eu não aguento mais a maneira de você falar do garoto. Ainda com um sorriso irônico nos lábios pintados de batom, a mulher diz: -É muito engraçado isso tudo. Agora é que eu vi, um defensor de ladrão. Alberto meu filho, você não é advogado, isso é caso de polícia. Sem delongas, Alberto se retira e procura o garoto na sala que estava brincando. E chamo-os. -Venha cá Antônio! Diga-me. Você pegou o dinheiro da Kátia na bolsa em seu quarto? Prontamente, ele respondeu. -Não, eu nunca entrei lá, e minha mãe sempre me dizia pra não desejar as coisas alheias. Eu não fiz isso. Momento em que Kátia dispara sua arrogância. -Você é um moleque e muito safadinho. Quem te deu ordens pra você entrar no meu quarto e esconder em sua mala o meu dinheiro. Cabisbaixo, Antônio chora, alegando: -Dona Kátia, não fui eu que peguei. Eu não sou ladrão. Eu falo a verdade. A minha mãe sempre me ensinou se não quiserem me ouvir com a verdade, o meu silêncio é vencedor. Prontamente Alberto interfere dizendo: -Vamos parar com isso tudo, e essa história está acabada. Na manhã, após Alberto sair para o trabalho, Kátia interpela Antônio. -Antônio! Venha cá, por favor! Olhe! Preste muita atenção. Aqui a nossa casa está muito pequena pra nós dois, e vejo que não há espaço para você morar. Eu acho que é melhor você ir embora, pois, a sua presença está atrapalhando a minha felicidade junto com meu marido. Eu lhe aconselho. Vá pra onde lhe aceitem. Aqui não dá mais, arrume suas coisas e vá embora agora. Sem dizer qualquer palavra, Antônio lagrimejou pelos cantos do seu quarto, arrumando uma pequena mala que havia recebido de Alberto, e sai sem destino pelas ruas da cidade. Mais uma trilha percorria e abafava os pequenos pulsos do guri que sentia a falta da mãe. Em cada esquina, ele procurava por sua mãe, e sem qualquer resposta, sentava ao lado da mala olhando as pessoas e o trânsito da cidade. E novamente, encontrou a Praça da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, sentou no banco vazio, e ouviu as badaladas tristes do relógio sinalizando a hora melancólica do meio-dia. Sem tardança, veio a chuva que molhou suas vestes e a mala, ainda chorando, retirou a camisa molhada e lançou nas costas, ali permanecendo. No horário do almoço, Alberto chega a sua residência e procura por Antônio, momento, em que a esposa informa não saber do seu paradeiro. Inesperadamente, inicia uma discussão, e Alberto fala que se Antônio não aparecer, a culpada do desaparecimento é a esposa, que argumenta está sofrendo pela falta do garoto. Agonizante, Alberto vai à delegacia de Polícia deslocando vários policiais a procura do menino pobre. Entre várias viaturas, disparam em altas velocidades pelas ruas acima e ruas abaixo da cidade, até que um policial observa um menino deitado num banco da praça. Novamente, Antônio é entregue ao senhor Alberto que procura saber os motivos da fuga e desaparecimento do lar, não encontrando resposta, apenas os olhos inchados de tantos prantos derramados. Ao chegar na residência da família, Kátia o recebe com alegria dizendo: -Antônio! Não faça mais isso! Você deixa o seu pai louco e me culpa por tudo isso. Agora fique sabendo que aqui é a sua casa. Sem haver qualquer complemento, Antônio perpetua em silencio o sentimento guardado pela mãe Marina, e chora. Alberto tenta consolar, porém, o menino adormece em seu quarto numa divisão de sofrimentos que esquarteja o tempo e acelera o amor maternal. E tudo passa, os anos vão se alongando, e Kátia procura de alguma forma entender os sentimentos do esposo na cooperação advinda com o garoto que já conta com dezesseis anos, concluindo o ciclo colegial. As mudanças de personalidades, às vezes são alteradas ou às vezes são retraídas num descaso, mas, Kátia procurou ao longo dos anos, interpretar e ganhar o carinho do jovem como uma grande conselheira. E foi naquela tarde, já na fase adulta, que o menino pobre de Caxias chamado Antônio constava nas listas de aprovado do vestibular da UEMA ao curso de Medicina, indo estudar na capital do Maranhão. É na mais linda capital do nordeste brasileiro, onde floresce São Luís, a cidade exuberante e capital do Estado do Maranhão, única dona de uma graça, beleza e generosidade, e que aos tempos nasceram sob diversificados apelidos como: Atenas Brasileira, Ilha do Amor, Cidade do Azulejo, Cidade do Reggae. Assim, posso asseverar com veemência que não existe no mundo global, nada, nada mesmo que possa ser idêntico ao acervo cultural e arquitetônico da cidade francesa São Luís. Sem qualquer divergência, até mesmo a UNESCO, ao deliberar a cidade, encantou-se da bonita metrópole com um Centro Histórico, com mais de três e quinhentas edificações que caminham de braços dados ao passado. Uma cidade fundada em 1612, pelos franceses, ao longo da história fora invadida por holandeses e depois, retomada pelos portugueses. Examinando esses elementos e traços característicos é uma cidade desenvolvida na coexistência de índios, brancos, e negros. É neste Pretório máximo onde a cultura colonial perpetuou um arquimilionário legado histórico e cultural para as gerações vindouras. É assim a minha querida cidade de São Luís que se apresenta com distintivo entre as regiões Norte e Nordeste do meu Brasil. Uma metrópole repleta de mistérios e lendas, onde o leitor poderá se sentir no século XVIII, com uma expansão cultural e folclórica como o bumba meu boi e o tambor de crioula e outras festas e danças populares. O seu povo é bastante hospitaleiro, sem sombras de dúvidas, um dos melhores lugares do mundo pra se viver, pois os seus moradores são gentis e adoram puxar uma boa conversa. É a cidade de São Luís, portanto, a maior manifestação que Deus já outorgou à terra maranhense, luzindo a cidade e contemplando com suas belezas naturais e famosas praias. Posso garantir aos diversos leitores nacionais e internacionais, que a cidade francesa da Ilha de São Luís do Estado do Maranhão, é linda, além de ser rainha na gastronomia do nordeste com restaurantes tradicionais, com um dos pratos mais exóticos do Maranhão o majestoso o arroz de cuxá, além dos outros pratos com mistura africana, indígena e portuguesa. Tudo é São Luís, a torre e o mastro brasileiro da cultura, sem esquecer as variedades de grandes peixes e frutos do mar. Caro leitor(a), você talvez perguntaria. Qual a causa do nome de São Luis? Muito bem. A cidade fundada pelo nobre navegador francês Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiére, que em 1612, fundou a cidade, a única na história do Brasil. E por obediência ao Rei menino Luis XIII da França homenageou em seu nome a nova colônia. Um certo dia, Antônio telefona para Alberto perguntando; -Pai! Como vai o senhor? Tenho muitas saudades daí e de vocês dois. Alberto informa: -Sim, eu vou bem. Também tenho saudades de você demais meu filho. Você sabe que tenho consideração por você como se fosse meu filho. -O Senhor tem noticiais aí em Caxias da minha mãe. Não deixe de procurar por minha mãe. É tudo o que eu quero ver na minha vida. E como vai a mãe Kátia? A minha formatura vai ser no mês de junho. Estou muito feliz por tudo o que vocês fizeram comigo. Alberto muito feliz responde; -Não encontramos ainda. A tua mãe está viajando para a cidade de Parnaíba, pois tivemos notícias que ela reside lá. Ela está trabalhando muito pra encontrar sua mãe verdadeira e leva-la no dia da sua formatura. Estamos todos procurando, além dos amigos. E pela sua formatura em médico, vou fazer a maior festa em Caxias. Antônio diz: -Que legal pai! Eu adoro você. Eu o amo muito e também a minha mãe Kátia. Quando eu estiver aí quero comer doce de buriti. Tudo se encerrou, Antônio colou grau, porém os seus olhos fisgavam o fundo do recinto a procura de sua mãe, e nada podia ressurgir ao tempo de tanta procura sem qualquer resposta. Um dia de sol, ele sai da clínica de sua propriedade e vai a Igreja no centro da cidade, na Ilha do Amor, a verdadeira Ilha dos franceses, São Luís do Maranhão, estaciona o seu conversível BMW num estacionamento na Rua dos Afogados, com seu jaleco branco, segurando a maleta preta, entra pela Rua do Sol. Como bem acentuei acima, Antônio mesmo distante de sua cidade natal, não se desligava dos laços religiosos, indo sempre orar na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, localizada no centro da cidade na Praça Gonçalves Dias. Desta forma, esta igreja data a sua construção em 1719, uma igreja com total influência de estilo gótico estilizado, sendo uma das mais belas e conservadas de São Luís, a Igreja dos Remédios. Após orar diante de sua protetora, Antonio passava pelo Teatro Arthur Azevedo, na maior casa de espetáculos e uma das mais luxuosas do Brasil com um bar e uma loja de souvenir, localizada na Rua do Sol, S/N. E naquele mesmo sentindo, com passos leves, o doutor Antonio passava pela calçada do antigo sobrado - Museu Histórico e Artístico do Maranhão construído no século XIX, onde lá possui acervo de usos e costumes daquela época, com uma galeria de arte e anfiteatro nas terças e sextas-feiras, sábados e domingos, localizada na Rua do Sol, nº 302. Aos suplícios uma mendiga estende a mão dizendo: -Ô meu filho dê uma esmolinha pelo amor Deus! Eu rogo a Nossa Senhora dos Remédios para lhe dá conforto e sabedoria. -Ô meu filho dê uma esmolinha pelo amor Deus! Eu rogo a Nossa Senhora dos Remédios para lhe dá conforto e sabedoria. Entre tantos transeuntes nas calçadas, Antônio ouviu a frase daquela senhora com trajes maltrapilhos, lançando aos presentes que passavam na calçada a mesma frase. -Ô meu filho! Dê uma esmolinha pelo amor Deus! Eu rogo a Nossa Senhora dos Remédios para lhe dá conforto e sabedoria. Moscas e sobejos de alimentos e um fedor arrojavam o corpo daquela pedinte que passava às duras penas nas calçadas, um ferimento na perna ocasionado por um acidente automobilístico atrapalhava o seu deslocamento. Era uma vida sem valia lançada nas margens e marquise da Rua do Sol. Um outro dia, Antonio passa pela calçada da Rua do Sol, muito tristonho sem saber o que fazer, e de repente, cruza com a pedinte que suplica. -Ô filho de Deus! Me dê um pão pra eu comer. Com muita pressa, O jovem lança em sua mão seis moedas, instantes em que a pedinte agradece. -Filho! Deus há de lhe dá mais em todas as manhãs e agradeço de coração. O doutor Antônio, médico cirurgião de renome na capital, por várias vezes permanecia pensativo com as frases na mente ditas por aquela mulher mendiga, o que lhe chamava por uma forte atenção. Um mês depois, caía um temporal na Ilha do Amor, e novamente o médico Antônio necessitava resolver negócios no centro, oportunidade em que passava pela calçada da Rua do Sol, de imediato observava a mendiga, e preparava as moedas, ouvindo a mesma frase. -Me dê uma esmolinha pelo amor Deus! Eu rogo a Nossa Senhora dos Remédios para lhe dá conforto e sabedoria. E assim, ele lançava em sua mão várias moedas, agradecendo, ela dizia. -Deus há de lhe dá mais em todas as manhãs e agradeço de coração. O médico cirurgião não aguentou as frases que a pedinte não trocava, eram sempre as mesmas frases, e distanciando, passou a observar a mendiga. E naquela separação, o médico Antonio podia ouvir a repetição das frases que eram idênticas quando convivia com mãe os últimos momentos de sua vida na Praça da Igreja da Catedral – Igreja de Nossa Senhora dos Remédios em Caxias(MA). Sem demora, o doutor Antônio se aproximou da mendiga, indagando: -Por acaso a senhora é devota de Nossa Senhora dos Remédios? Assustada, a mendiga respondeu. -Sou sim, e o que o senhor quer saber? Inquiriu novamente o médico: -Desde quando a senhora é devota da santa? Desconfiada e nervosa, ela disse: -Hum! Desde muitos anos senhor. Mais por que pergunta? Respondeu o doutor Antônio segurando a maleta. -Eu pergunto pra tirar uma dúvida que sempre que passo aqui, ouço a senhora repetir a mesma frase que minha mãe me dizia. Com dúvidas, a pedinte indaga: -E como era o nome de tua mãe? Sem desconfiar, Antônio fala: -Minha mãe se chamava Marina. Ela me abandonou quando pequeno, e me lembro muito bem que ela me ensinou essa mesma frase que a senhora diz quando pede. Não restaram minutos e nem segundos, os olhos da pedinte lagrimava formando lagoas de pranto na face suja com mal cheiro e o médico indagava; -Por que está chorando senhora. Espero não ter ofendido. Me desculpe por favor! Apenas perguntei sem intenção de lhe machucar. A pedinte chorando diz: -Estou chorando por que eu nunca mais eu voltei pra levar o seu lanche. Por isso, eu choro na certeza que você é feito homem e doutor. Meu filho Antônio! Ó meu filho, se estivesse aqui, estaríamos no mesmo barco. O médico não conteve as emoções de encontrar a sua mãe, arremessando ao chão a maleta, e abraçando e beijando a sua mãe materna que tanto o procurava. Foram abraços e mais abraços, beijos e mais beijos, prantos e mais prantos derramados no solo da Rua do Sol. E assim dizia o médico: -Mãe! Sou eu. O seu filho querido. Eu sofri muito por sua causa, e lhe procurei por todos os lugares. Como a senhora está diferente? O que aconteceu com a senhora? Por que lhe maltrataram, mãe? Cadê os seus cabelos longos e pretos? Entre lágrimas, Marina dizia: -Filho, eu sou a Marina de Caxias, a tua mãe. Tudo, tudo eu perdi no meio da rua, no meio do mundo. Tudo eu sofri para que você fosse o homem que és. Por todo o meu amor, eu não poderia levar o meu sofrimento na tua juventude, no seu brilho. Nossa Senhora dos Remédios me apresentou aquela casa para que lá você ficasse. Eu sei que você sofreu no início, porém, a vida continuou e com o silencio, você foi vencedor. Não haveria outra maneira de você me reconhecer se não fosse através das frases que lhe ensinei perto da igreja da Catedral diante de Nossa Senhora dos Remédios. Eu sabia que um dia você iria me ouvir, e sua mente e alma iria me conduzir em algum lugar. Ó filho! Eu não sou digna de lhe abraçar e nem beijaro seu lindo rosto. Vejas o meu estado. Abraçando e chorando, Antônio conforta Marina. -Quanto tempo eu esperei por você, minha mãe! Não importa o jeito de lhe encontrar, não importa se os outros vão olhar, não importa nada. O importante é que reencontrei você. Já comprei um apartamento na Avenida Litorânea e um carrão lindo. Tudo é seu, minha mãe. Disse Marina: -Mais você ainda me quer assim? Do jeito que me encontro sem andar? Exclamou o médico rodeado de curiosos: -Mãe! Ó mãe! Eu quero você de qualquer jeito. Eu não tenho vergonha de nada. Porque você é minha mãe, a minha única companheira que Deus me deu. E hoje, eu posso lhe dá tudo o que a senhora nunca teve. E depois, viajaremos pra Caxias, pois os meus pais adotivos irão fazer um grande banquete em sua homenagem. Sem demora, Antônio pega a mãe no colo da mesma forma que ela o fizera há muitos anos atrás com o filho, e se dirige ao automóvel conversível de marca BMW, levando com alegria ao reencontro do amor, da esperança e do conforto ladeado pela benção e súplicas a Nossa Senhora dos Remédios perante a Igreja da Catedral de Caxias naquele ano de 1977. É assim que vive o amor, na construção e permanência dos que fazem trilhas no silencio, calando-se diante dos arrogantes e lançando os seus nomes no rol dos vitoriosos. E por demais, viveram, assim, o FILHO DE MARINA, retrato fiel de um homem compreensivo nas razões e emoções ao lado de sua mãe, constituindo nova família. FIM ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 01/05/2008
Alterado em 23/03/2016 Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |